| O mundo é cheio de pessoas e os dias cheios de infinitos
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| Mas tão ínfimas as possibilidades de nascer um mito
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| E para fazer por isso
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| Podemos tentar tornar o dia do outro mais bonito
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| Ele escolheu começar no dia dos namorados
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| Uma rosa e um recado confiando no acaso
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| Mas ela não respondia e algum tempo passado
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| Na falta de um mais-que-tudo o compromisso foi selado
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| Com o mundo e se no fundo o amor é quotidiano
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| Faz sentido que o altar seja o metropolitano
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| Todos os dias do ano na última carruagem
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| Devoto na oferenda uma flor e uma mensagem
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| Escrevia como para ela
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| Em vida paralela e vinha de Santa Apolónia sentado à janela
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| E quando trocava no Marquês para a linha amarela
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| Já trazia uma flor a menos na lapela
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| E lá estava o seu bilhete pendurado
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| No sinal de alarme como combinado
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| Para lembrar a quem passava que o amor é inesperado
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| E que, como o perigo, pode estar em todo o lado
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| O destino do vagão era o coração
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| Amadora ou a que ama era a direcção da circulação
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| E cada dia era comprido com dedicação
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| A rotina que fazia da sua vida uma missão
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| E como retribuição ele recebeu respostas
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| À caixa de correio chegaram muitas propostas
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| Mulheres dispostas a tudo
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| Lisboetas ou do mundo mas que no vagão do fundo sonhavam com futuro inspiradas
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| no romance
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| Sem chance
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| Ele só queria uma e esta não estava ao alcance
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| 365 dias depois
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| Depois de 365 poemas e flores
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| Chegada ao fim da promessa e despedida
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| Era a última tulipa, a última missiva
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| No sinal de alarme na tarde de S. Valentim leu-se
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| «a paixão é o início, o amor é o fim»
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| E já sem nenhuma esperança que ela lhe respondesse
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| Tingiu de algumas lágrimas esse último bilhete
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| Foi de coração cinzento que na manhã seguinte
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| Tudo foi surpreendente mal saiu do número 20
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| Havia flores e frases espalhadas pelas ruas
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| Nos postes, nos semáforos, nos carros, nas gruas
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| Palavras nas paredes, pétalas por todo o lado
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| Poemas e papoilas e RAP a passar na rádio
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| Ele ia embasbacado no caminho da estação
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| Que passou a primavera com as flores no corrimão
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| E até na bilheteira se davam outros bilhetes
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| De admiradores secretos do metro nos seus «flirts»
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| Ele foi descendo a escada na entrada da carruagem
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| Penduradas no alarme: uma flor e uma mensagem
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| Pela primeira ele era o destinatário
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| Era o 15 de fevereiro, o seu aniversário
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| Cheirou a rosa vermelha enquanto abria a carta
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| «a paixão é uma janela o amor é uma porta «E ao lado estava uma entreaberta
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| E no recado era conhecida a letra
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| Espreitou para a cabina e era ela!
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| No lugar do maquinista à sua espera!
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| E ali debaixo da terra com o beijo de cinema disse
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| «a paixão é uma flor, o amor é um poema»
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| E ali debaixo da terra com o beijo de cinema disse
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| «a paixão é uma flor, o amor é um poema»
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| Em Lisboa, esta manhã, já partiu, na última carruagem da linha azul já partiu.
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| Mais uma flor, mais uma frase, já partiu o amor |