| Eu vejo uma luz efêmera sair da câmara |
| Seria a lâmpada, seria a lâmina |
| Seria alguma cobra lá, a cólera de Andrômeda |
| Seria alguma víbora com sua presa a posta feito virgula |
| A jorrar veneno da mandíbula |
| A síntese maligna colega de Calígula |
| Mostrando sua amígdala, uma ser esdrúxula |
| Eu via a mágica mas não havia nenhum bruxo lá |
| E eu não posso cochilar, que pode ser um drácula |
| Um crápula, um homem sem escrúpulo faz tudo pelo lucro |
| E o desejo de Coppola, eu não perco o foco lá |
| Perco a nota mas não perco a ópera |
| E quem nunca beberá do copo da soberba? |
| Só beba um gole, fico ébrio mas eu me sinto sóbrio |
| Um dia esse hábito vai me levar ao óbito |
| Não sou nenhum Heráclito, filósofo |
| Para saber que o fim é próximo |
| Um dia o sol virá e feito um fósforo transformará tudo em pólvora |
| E o povo lá vendo na areia o sal quebrar |
| E o oceano engolindo o mundo feito pálpebras |
| É o fim de qualquer dogma, de qualquer álgebra |
| Pitágoras e Bhaskara, será o apocalipse |
| Algum eclipse a cobrir a noite feito o Máskara |
| E não será metáfora e não haverá células |
| Talvez uma partícula vagando por aí |
| Feito libélula como se fosse o fim de uma película |
| Dessa vida ridícula, incrédula, estúpida |
| Não me culpe tá se amanhã não houver música |
| Se tudo se acabar numa década, num século |
| E algum ser acéfalo em algum canto nascerá |
| Será um ser tão ínfimo e tão supérfluo |
| Algum mamífero, um réptil, um ser intrépido |
| Alguma bactéria que criará um cérebro com veia e artéria |
| Matéria de amalgamar, em algum pântano |
| Com alma pra criar um âmago, esôfago, estômago, e o fígado |
| E o fogo do Olimpo de algum Prometheus |
| Será filho de deus um sopro de uma luz tão nítida que ninguém preverá |
| Nenhum oráculo, horóscopo, binóculos, tão ótimos |
| Capazes de ver um átomo será tão rápido |
| Não haverá cronômetros |
| Será algum fenômeno que ninguém saberá |
| Não estará escrito no versículo, capítulo da fábula |
| No paralelepípedo da lápide da távola e et cetera |
| Não passará de uma parábola |
| E o tempo parado no ar que nem helicóptero |
| Enunciando a véspera de algum futuro próspero |
| De alguma vida áspera a nos esperar |